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“Aqui não é permitido envelhecer.” – Armando Cortez
por Maria Helena da Bernarda
(publicado a 16 de setembro de 2023)
CHEIRA A LISBOA
“A Casa do Artista é hoje a minha casa e o fado sempre foi a minha alma…
Batizaram-me de Bebiana Guerreiro Rocha, mas esse não é nome artístico. Aproveitaram o Guerreiro, para dar luta, e juntaram-lhe Anita, mais carinhoso.
Até aos meus 12 anos, éramos cinco lá em casa: os meus pais e as três filhas. Nessa altura passámos a quatro, porque a nossa mãe faleceu de febre tifoide. Nunca tive desgosto maior. Ela era muito querida; estava sempre a fazer bem a toda a gente.
Comecei a cantar na escola primária o hino nacional, que era obrigatório. A minha voz distinguia-se e puseram-me logo como primeira figura. Pelos 14 anos, já cantava na coletividade Sport Clube Do Intendente. Entrei lá numa revistinha e já não me largaram.
Fiz muita revista, cantei e lancei muitos fados originais, mas talvez o mais conhecido é o ‘Cheira Bem, Cheira a Lisboa’, com letra do César de Oliveira. Também fui Madrinha de muitas marchas populares de Lisboa, entre elas a ‘Marcha dos Mercados’. Fiz teatro, cinema, televisão e muita avenida abaixo nos Santos Populares. Abri ainda um restaurante e casa de fados, a casa típica Adega da Anita, à entrada do Parque Mayer
Em tudo fui feliz, porque me entreguei com toda a minha alma. Ainda gosto muito de cantar. A voz pode não ser a mesma, mas a alma é.
Tive um primeiro casamento demasiado cedo, que não me deu filhos. Casei pela segunda vez com o Pepe Cardinali, cantor e ilusionista do Circo Cardinali, com quem tive dois filhos e me fez muito feliz. Nunca foi ciumento, nem eu nunca lhe dei razões para isso. Além disso, ele vinha do mundo do espetáculo, que compreendia bem. Gostava de me ver atuar, mesmo muito doente.
Ele adoeceu de Alzheimer e uma parte de mim adoeceu como ele. Quando o perdi, ficaram muitas saudades e a certeza de que nunca iria dar espaço a mais ninguém.
Dizem que sou generosa e que não trato mal ninguém, mas também dizem que sou um bocadinho teimosa e disso eu tenho a certeza que sim. Mas há muitas outras coisas de que já não tenho certeza. É que a memória já me vai falhando, o que até convém dizer a quem nos pergunta a idade!” (risos)
Fotografia: Mª. Helena da Bernarda