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“Aqui não é permitido envelhecer.” – Armando Cortez
por Maria Helena da Bernarda
(publicado a 18 de setembro de 2023)
O PRIVILÉGIO
“A Casa do Artista é um bonito projeto cuja ideia veio do Raúl (Solnado) e foi posto em prática por um grupo de artistas, entre os quais o meu marido, o Armando (Cortez) e eu também, claro.
Vários atores fundaram uma Associação para angariar fundos, atuando de boa vontade. Tudo boa gente, que preferia não se lamentar mas decidir: ‘Vamos fazer!’
O Armando, meu único marido e grande amor, faleceu há 21 anos. Pensávamos da mesma maneira. Tudo nos unia, o teatro também. O palco sempre foi o meu chão, pois sou filha de atores.
Estivemos casados 42 anos. O nosso filho biológico, o Pedro, está com 55 anos. Mas quando alguém me pergunta quantos filhos tenho, digo sempre que tenho dois, porque é verdadeiramente o que sinto…
O Armando tinha sido casado com a Fernanda Borsatti, de quem já tinha um filho, o José Eduardo, que o pai carinhosamente tratava por Funfas, pois fungou mal nasceu. Mas por força da muita atividade da Fernanda e de nós termos mais apoios, sobretudo o da minha mãe, o Funfas foi criado lá em casa.
Entre os adultos houve sempre uma relação cordial, de gente educada, como tinha de ser pelo bem de todos, especialmente de uma criança.
A nossa profissão era absorvente e emocional, nem sempre favorável ao equilíbrio familiar. Mas, felizmente, nós tínhamos essa consciência.
O José Eduardo e o Pedro converteram-se em dois homens bem formados e bem sucedidos, o primeiro médico e o segundo arquiteto. São amicíssimos. A relação entre os dois e comigo não podia ser melhor. Nunca se esquecem de mim, tal como os meus netos do Funfas.
Não há segredos para que uma relação entre madrasta e enteado funcione bem. Só sensibilidade e bom senso. Para ele, eu não era madrasta, era Manela, como sempre me tratou. Eu tratava-o por Funfas mas não por tu. Fazia por respeitá-lo, razão pela qual o servia sempre antes do Pedro quando nos sentávamos à mesa.
Lembro-me bem da minha preocupação pela maneira como iria dizer ao Funfas que estava grávida. Era assunto delicado…
Um dia estávamos os dois a ver televisão e perguntei-lhe: ‘Que nome é que quer dar ao seu irmão ou irmã?’. Escolheu Anabela para menina e Pedro para rapaz.
A mais ninguém daria esse privilégio!”
Fotografia: Mª. Helena da Bernarda