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“Aqui não é permitido envelhecer.” – Armando Cortez
por Maria Helena da Bernarda
= Filha da nossa estimada Residente, Florência Vieira =
(publicado a 10 de agosto de 2023)
ENTRE TANTO...
“Vivo em Gaia mas venho todos os fins-de-semana a Lisboa ver a minha mãe * à Casa do Artista, para onde veio residir em Março passado.
Após um AVC, ficou necessitada de cuidados acrescidos que, com muita pena minha, não lhos posso prestar.
Fui professora de dança durante vários anos, mas agora estou mais orientada para a área holística: dou aulas de meditação e ioga, a maioria das quais ao final do dia, que seriam as horas em que ela mais precisaria da minha assistência.
A vida actual é difícil a todos os níveis: é difícil para os mais idosos mas também para a geração abaixo, quando ainda trabalha e não tem recursos extra para cuidar.
Tenho muita pena que não haja um polo da Casa do Artista na região norte, ainda que fosse uma unidade mais pequena. Não havendo, ou enquanto não houver, eu não gostava que ela entrasse num lar descaracterizado. Aqui, estando a minha mãe rodeada de tantas pessoas ligadas à vida artística - figuras que povoaram a sua vida - com actividades também ligadas ao mundo do espectáculo, acredito que é a melhor casa onde ela poderia estar.
Sou filha única e não tenho com quem dividir o apoio que a minha mãe merece. Mas também fui a única a acolher todo o seu amor maternal. Por isso, prefiro suportar eu o preço da distância que vê-la deslocada num mundo onde não se reconhece.
Desde Março que faço 620 kms todos os sábados - 7h de autocarro - às vezes sozinha e outras na companhia do meu marido, como hoje, sem pensar nos gastos e no sacrifício.
Venho religiosamente, ansiosa de ver nela o sorriso com que me recebe e parto com um sentimento de gratidão por saber que ela, aqui, está tão bem cuidada. Entretanto, passo com ela umas três a quatro horas; conversamos muito e vamos almoçar fora.
Quando eu era bebé e criança pequena, ela estava no auge da sua carreira e tive o grande apoio dos meus avós. Mas desde a escola primária - desde que me conheço como pessoa - a minha mãe foi sempre muito presente; foi mãe e pai.
O mínimo que posso dar a quem me deu tanto é um dia da minha semana. Os outros seis? Falamos pelo menos duas vezes por dia: depois do almoço e do jantar. É pouco para mim e tanto para ela!”
NR * A cantora Florência
Fotografia: Mª. Helena da Bernarda