Raul Solnado
Nasceu a 19 de outubro de 1929, na Madragoa, em Lisboa, filho de Bernardino da Silva Solnado e de Virgínia Augusta de Almeida.
Na sua carreira, Solnado, passou pela Rádio, Teatro, Televisão e Cinema, tendo ainda sido empresário.
Raul Solnado iniciou a carreira artística aos 17 anos como ator amador na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, onde foi colega de José Viana, Varela Silva e Jacinto Ramos. O gosto pelo teatro levou-o a inscrever-se, em 1951, num curso noturno do Conservatório Nacional.
A sua estreia como profissional foi feita a 10 de dezembro de 1952 no Maxime, integrando o elenco do espetáculo “Sol da Meia-Noite”, escrito por José Viana. Numa noite em que Vasco Morgado estava na plateia do Maxime, o empresário convidou-o para trabalhar no Parque Mayer.
A sua primeira revista foi “Canta, Lisboa!” (1953), no Teatro Monumental, onde trabalhou ao lado de Laura Alves. Nos primeiros anos, fez a aprendizagem ao lado das primeiras figuras da revista da época, como António Silva, Irene Isidro, Vasco Santana, Teresa Gomes, João Villaret, Assis Pacheco ou Manuel Santos Carvalho. Seguiram-se “Viva o Luxo” e “Ela Não Gostava do Patrão” também o Teatro Monumental. Solnado passou também pela opereta, integrando o elenco de “Maria da Fonte” (1953) e de “O Zé do Telhado” (1955).
A estreia cinematográfica de Solnado fez-se numa curta-metragem de Ricardo Malheiro: “Ar, Água e Luz”, tendo-se seguido um pequeno papel ao lado de Humberto Madeira em “O Noivo das Caldas” (1956), de Arthur Duarte.
Entretanto participa em “Há Horas Felizes” (1953), “O Pinto Calçudo” (1953), “…E o Fado Caiu no Samba” (1954), “A Grande Aventura de Robin dos Bosques” (1954), “”A Rosinha dos Limões” (1954), “A Irmã São Suplicio” (1954), “O Tio Valente” (1954), “De Bota Abaixo” (1955), “Melodias de Lisboa” (1955), “Abril em Portugal” (1956), “Aí Vêm os Palhaços” (1956), “Ar, Água e Luz”, (1956), “Desencontro” (1956), “Teatro de Brincar” (1956), “Não Faças Ondas” (1956), “Amor em Concordata” (1956).
Em 1956, casou com a atriz brasileira Joselita Alvarenga, de quem se separaria em 1970. Deste casamento, nasceriam dois filhos, Alexandra e José Renato.
Gradualmente tornou-se um dos atores mais promissores do panorama artístico nacional. Começou a protagonizar as suas primeiras revistas: “Música, Mulheres e…” (1957) e “Três Rapazes e Uma Rapariga” (1957).
Depois de pequenos papéis no cinema em “Perdeu-se um Marido” (1957), de Henrique Campos, e “Sangue Toureiro” (1958), de Augusto Fraga, fez o primeiro filme como protagonista na comédia “O Tarzan do Quinto Esquerdo” (1958), também realizada por Augusto Fraga.
Em 1958, deu os primeiros espetáculos no Brasil, onde acalçou enorme popularidade e sucesso. De regresso a Portugal, volta ao Parque Mayer, desta vez ao Teatro ABC, para protagonizar a revista “Vinho Novo” (1958), ao lado de José Viana, continuando com grande sucesso em espectáculos como “Pernas à Vela” (1958), “Abaixo as Saias” (1958), “Agora é Que São Elas” (1958), “Mulheres à Vista” (1959), “Delírio em Lisboa” (1959), “Quem sabe, sabe” (1959), “Acerta o Passo” (1960), “A Vida é Bela” (1960), “Campinos, Mulheres e Fado” (1961), “Charley’s Aunt” (1961), “Bate o Pé” (1961).
Em 1961, enfrentou os seus primeiros problemas com a Censura: Solnado e Camilo de Oliveira são julgados por ofensas contra a Comissão de Exame e Classificação dos Espetáculos por terem representado falas que tinham sido abolidas pela censura.
Em 1960, juntamente com Humberto Madeira e Carlos Coelho, tornou-se sócio da Companhia Teatral do Capitólio. Pelo seu desempenho secundário de sacristão no filme “As Pupilas do Senhor Reitor” (1961), de Perdigão Queiroga, foi agraciado com o Prémio SNI para Melhor Interpretação Masculina.
Marcou presença num dos momentos mais emblemáticos do Cinema Novo português ao protagonizar “Dom Roberto” (1962), de Ernesto de Sousa. “Dom Roberto” foi distinguido no Festival de Cannes com o Prémio da Jovem Crítica.
Em 1961, Solnado atingiu o auge da sua popularidade com a rábula A História da Minha Ida à Guerra de 1908, representada pela primeira vez na revista “Bate o Pé”. A rábula seria mesmo transcrita para disco, tornando-se um fenómeno de vendas. Após uma discreta participação no filme “O Milionário” (1962), de Perdigão Queiroga, e depois de muitos sucessos revisteiros em Portugal e no Brasil, fundou, em 1964, o Teatro Villaret com uma Companhia própria. Aí protagonizaria sucessos de público como “O Impostor-Geral” (1965), “Braço Direito Precisa-se” (1966), “A Guerra do Espanador” (1966), “Quando é Que Tu Casas Com a Minha Mulher?” (1966), “Desculpe Se o Matei” (1966), “Pois, Pois” (1967), “Assassinos Associados” (1967), “O Fusível” (1967), “Oh Que Delícia do Coisa” (1968), “A Preguiça” (1968), “Amor às Riscas” (1969), “O Vison Voador” (1969) ou “O Tartufo” (1971).
Juntamente com Fialho Gouveia e Carlos Cruz entrou para a História da Televisão portuguesa, apresentando o programa “Zip Zip” (1969). Esta mistura de talk-show com números cómicos e musicais acabou por alcançar uma popularidade nunca antes vista, a ponto de o cancelamento do programa ter sido recebido com grandes manifestações de pesar e protesto. Em 1971 continua a aventura televisiva com “A Visita da Cornélia” seguindo-se “A Prata da Casa” (1980) e “O Resto São Cantigas” (1981).
Após a Revolução do 25 de abril de 1974, filiou-se no Partido Socialista e optou por passar largas temporadas no Brasil, onde protagonizou o filme “Aventuras de um Detetive Português” (1975).
De volta ao seu país natal, encarnou as personagens principais das peças “Schweik na Segunda Guerra Mundial”(1975), “Isto é Que Me Dói” (1978), “Felizardo e Companhia” (1978), “Há Petróleo no Beato” (1981) e “SuperSilva” (1983) e foi ainda autor, ao lado de César de Oliveira e Fialho Gouveia de uma das mais emblemáticas revistas da década de 80, “Lisboa, Tejo e Tudo” (1986) no Teatro ABC. Em palco, participou ainda em espectáculos no Teatro Nacional D. Maria II (“O Fidalgo Aprendiz”, de Francisco Manuel de Melo, em 1988) e do Teatro Nacional de S. Carlos (“O Morcego”, de Strauss, em 1992), e teve papéis de destaque em “As Fúrias”, de Agustina Bessa-Luís (1994), “O Avarento”, de Molière (1995), e “O Magnífico Reitor”, de Diogo Freitas do Amaral (2001).
Relativamente ao cinema e depois do seu regresso a Portugal, voltou a esta arte pela mão de José Fonseca e Costa num impressionante registo dramático como Inspetor Elias Santana em “A Balada da Praia dos Cães” (1987) e ainda em “Aqui D’el Rei” (1989), de António Pedro Vasconcelos, “Requiem” (1998), de Alain Tanner e “Call Girl” (2007) de António Pedro Vasconcelos.
Muito grande foi a sua participação em trabalhos televisivos: “Baton”(1986), de Alfredo Cortez, ao lado de Armando Cortez e de Margarida Carpinteiro, protagonizou a sitcom “Lá em Casa Tudo Bem” (1987), “Topaze” (1988), “Conto de Natal” (1988), com realização de Lauro António, “Meu Querido Avô”. Participou nas telenovelas “A Banqueira do Povo” (1993) e “Ajuste de Contas” (2000) e no telefilme da SIC “Facas e Anjos” (2000) onde pôde realizar o velho sonho de vestir a pele de um palhaço. Em 1991, lançou a biografia “A Vida Não Se Perdeu”, escrita por Leonor Xavier. Recebeu o Prémio Carreira Luís Vaz de Camões, foi homenageado em 2002 com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa e recebeu, em 10 de junho de 2004, do Presidente Jorge Sampaio a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
A compilação “Tá Laáa…? O Melhor de Raul Solnado – volume 2” inclui o inédito “O Paizinho do Ladrão”, “A História do Meu Suicídio” e ainda gravações “No Zip-Zip”, “No Teatro” e “Nas Cantigas”. Além de “Fado Maravilhas” e de “Malmequer” inclui duas novas gravações: “Eu Já Lá Vou” e “Haja Descanso (Viva o Chouriço)”. É também pai do cantor Mikkel Solnado, além de avô da atriz Joana Solnado.
Faleceu a 8 de agosto de 2009, aos 79 anos, em Lisboa, vítima de doença cardiovascular e os seus restos mortais descansam no Cemitério dos Prazeres. Foi, até à sua morte, Diretor da Casa do Artista.
Em sua homenagem foi dado o seu nome à Avenida Raul Solnado, em Cascais. Também a Galeria de exposições da Casa do Artista recebeu o seu nome.
Texto: Frederico Corado.